
Apesar de tudo continuam a gostar de brincar e rir como se não tivessem que andar por aí. Como se os locais para brincar na cidade não fossem bem vedados, forrados de material sintético e com “aparelhos” calibrados e estudados na Escandinávia.
Apesar de tudo continuam a gostar de brincar e rir como se não tivessem que andar por aí. Como se os locais para brincar na cidade não fossem bem vedados, forrados de material sintético e com “aparelhos” calibrados e estudados na Escandinávia.
Crianças do 1 aos 14 anos mortas em acidentes rodoviários na União Europeia.
A tragédia é tanto maior porque as estatísticas mostram que quanto mais protegermos as crianças na sua exposição à cidade e ao tráfego, sem a gradual experiência e aprendizagem do perigo, mais probabilidades elas têm de morrer durante a adolescência.
A socióloga Helene Fretigné, no livro A Praça do Saldanha: Conflitos de uso no espaço público lisboeta (ed. Assírio & Alvim e ACA-M), ao medir as velocidades praticadas no Saldanha, detectou em quatros horas 69 infracções graves e 4 infracções muito graves. À noite "só um pouco mais de 30% [dos condutores] anda a uma velocidade adequada à requerida numa praça".
Permitir a entrada de quase meio milhão de carros em Lisboa todos os dias tem as suas consequências. Não é preciso ser romântico, sociólogo, nostálgico ou pedagogo para saber que a autonomia e a possibilidade que uma criança tem de explorar o mundo são elementos fundamentais para o seu desenvolvimento físico e psíquico – sujar as mãos, dobrar a esquina da rua pela primeira vez, construir amizades a caminho da escola, apanhar chuva, perceber e medir os seus limites, subir uma árvore, experimentar o perigo, molhar os pés, conversar com estranhos, acompanhar um carreiro de formigas, ter receio e fazer, ter receio e não fazer.
Quando digo que mais de 70% dos lisboetas não têm o privilégio de ter carro, depois do primeiro espanto, o pessoal diz-me com um sorriso matreiro – Eh pá, estás a contar com as crianças?! Outros, mais versados nestas “falácias” estatísticas, chegam a acusar que não é bem assim, porque a cidade tem muitos idosos!
Ok, confesso já aqui que me apanharam. Estou mesmo a contar com todos os Lisboetas.